Francisco deitou-se na sua cama.
Estava grato por estar vivo, por aquele acidente não ter acabado com a sua
vida. No entanto, sentia-se perdido por vezes. Não se lembrava de nada dos
últimos três anos mas também não queria saber. Estava bem como estava. Mas
aquela cara não lhe saía da cabeça. Nem conhecia bem a rapariga. Mafalda era o
seu nome? Era bonita, mas parecia triste a maioria das vezes, a sua felicidade
era temporária, o seu sorriso era impressionante, porém não era verdadeiro. E
aquele incidente no hospital havia sido estranho. Ainda se lembrava do que
sentiu quando acordou e a tinha visto a dormir, bem abraçada a ele, como se não
o quisesse perder. Viera a saber mais tarde que ela também estava no carro
aquando do acidente. Ainda não tinham falado muito. Tinha medo de a magoar por
não se lembrar dela. Sentia-se confuso, não a conhecia e, mesmo assim, sentia
que não a podia desapontar. Mas, ao mesmo tempo, tinha medo de se aproximar
mais dela. Acima de tudo queria respeitá-la. Todos falavam que ela e Bernardo
eram próximos. Não queria meter-se no meio, não queria magoar ninguém, muito
menos Mafalda. Mas a voz dela, os olhos, o sorriso, o nariz, o cabelo preto e a
pele pouco morena, as sardas no nariz não saíam da cabeça dele desde o dia em
que tinha acordado no hospital. Por isso é que tinha estado com Raquel naquele
dia para terminar a espécie de relacionamento que tinham. Estava bem sozinho,
exatamente porque se sentia confuso, não sabia o que sentia, mas sabia que o
que sentia por Raquel não era o suficiente para continuar com ela. Mas o que
Francisco não sabia era que em Leça da Palmeira, Mafalda deitava-se também a pensar
nele e no pouco que tinham vivido juntos.
- Não sei que
fazer, Kika. Eu gosto dele mas isto é tudo tão difícil. Saí da praia mesmo
confiante. Agora já estou outra vez sem confiança.
- Gostas
dele?
- Eu amo-o. Sou
tão feliz com ele, custa-me vê-lo com outra mas ele não tem culpa, eu sei.
- E
habitua-te a ele nunca mais se lembrar de ti. Os médicos disseram que o mais
provável era estes três anos terem desaparecido para ele e nunca mais voltarem.
Conquista-o como se fosse a primeira vez. Há uns tempos ele conquistou-te,
agora vais ter de ser tu a fazê-lo, mas não desanimes se levar mais tempo do
que aquele que estavas à espera. É normal que leve muito tempo. Vocês não se
conhecem.
Mafalda deixou
cair a cabeça na almofada enquanto a última frase de Francisca ecoava na sua
cabeça. Era verdade, ele não a conhecia. Mas podia conhecê-la. Só que naquele
momento ele estava comprometido com a outra rapariga e ela não queria
interferir negativamente na vida dele. Por isso ia esperar que aquela relação
desse errado e enquanto isso ia aproximando-se dele pela amizade, se ele deixasse.
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