Acordou e
deparou-se com um ambiente muito branco, com cheiros esquisitos. Olhou ao seu
redor e reparou que estava deitada numa cama que não era a sua, tinha uma
pulseira de papel no pulso e alguns cortes nas mãos. Olhou mais para o lado e
viu Francisca e Bernardo sentados à beira da cama a olharem para o chão. Pareciam
preocupados.
- Mafs! –
quando levantou a cabeça, Francisca falou e Mafalda sentiu alívio na sua voz.
Bernardo levantou os olhos e fitou-a com um ar cansado e preocupado. – Como te
sentes?
- Onde é que
eu estou? – Mafalda sentia a cabeça a andar à roda. Não se lembrava de nada.
- No hospital.
– Bernardo respondeu, enquanto lhe segurava a mão.
- Não te
lembras de nada?
- A última
coisa que me lembro foi de ir para casa do Chico e ficar com ele ate tarde. –
fez uma pequena pausa e as memórias começavam a aparecer. – Depois ele foi-me
levar a casa de carro e… - parou de falar. O coração começou a bater com mais
força ainda. – e tivemos um acidente. O Chico?
Mafalda
começou a entrar em pânico. Tentou levantar-se mas tinha demasiadas dores para
se conseguir levantar sozinha. Francisca chamou a enfermeira.
- Os teus pais
estão quase a chegar. Deita-te, precisas de descansar. – Bernardo acalmou-a.
Tinha a sensação de que ele se estava a aproveitar pelo facto de ela estar mais
fragilizada, mas mesmo assim, Mafalda deixou-se convencer. Realmente estava
demasiado frágil para contestar.
A enfermeira
chegou e deu-lhe uns comprimidos. Depois disso, Mafalda voltou a recostar a
cabeça na almofada e adormeceu. Sonhou com o acidente, sonhou que nunca mais
voltava a ver Francisco, sonhou que ficava com Bernardo e sonhou que a vida
dela não era mais nada daquilo que conhecia. Acordou transpirada, com o coração
acelerado, a respiração ofegante e a boca seca. Eram três da manhã. Mafalda
sentou-se na cama. Não se sentia tão cansada nem tão dorida. Levantou-se e saiu
do quarto onde estava, caminhou, descalça, pelo corredor do hospital, lendo
todas as folhas de pacientes para saber onde estava Francisco. E lá estava o
nome dele. Quarto 12. O coração começou a bater ainda mais, e ela entrou.
Aproximou-se da cama dele e sentou-se numa cadeira, admirando-o. Ele dormia
profundamente, tinha pontos na testa e um corte no lábio. Mafalda começou a
chorar. Tinha um pressentimento de que ele não estava bem. Levantou-se e
beijou-o nos lábios. Ele não retribuiu. Depois disso, deitou-se na cama dele e
abraçou-o. Ele mexeu-se para o outro lado, deixando mais espaço para ela se
deitar e abraçou-a também. No entanto, Francisco não acordou e Mafalda acabou
por adormecer agarrada a ele.
No dia
seguinte, acordou com Francisco. Ele estava sentado na cama e tinha chamado uma
enfermeira. Olhava para Mafalda seriamente. Ela sorriu e levantou-se também,
inclinando-se para o abraçar, mas ele afastou-a.
- Ouve, eu não
sei quem és, mas dormiste comigo. Se calhar sentes-te um pouco desnorteada. A
enfermeira leva-te ao teu quarto.
Mafalda não
acreditava no que ele estava a dizer. Não sabia quem ela era? Começou a rir-se.
- Oh Chico,
não se brinca com coisas sérias. Como é que te sentes?
Ele voltou a
afastá-la e levantou-se da cama. E foi nesse momento que Mafalda percebeu que
aquilo não era uma brincadeira. Francisco não se lembrava dela. Ela saiu da
cama e caminhou para fora do quarto, sem olhar para trás. Sentia-se desolada.
Caminhou pelo
corredor até ao seu quarto e, quando entrou, chorou. Não podia acreditar que
era verdade. Deixou-se cair no chão, encostou-se à parede e chorou. Não valia
de nada, mas não conseguia evitar, não conseguia suprimir a vontade de chorar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário