sexta-feira, 16 de agosto de 2013

parte VIII

Acordou e deparou-se com um ambiente muito branco, com cheiros esquisitos. Olhou ao seu redor e reparou que estava deitada numa cama que não era a sua, tinha uma pulseira de papel no pulso e alguns cortes nas mãos. Olhou mais para o lado e viu Francisca e Bernardo sentados à beira da cama a olharem para o chão. Pareciam preocupados.
- Mafs! – quando levantou a cabeça, Francisca falou e Mafalda sentiu alívio na sua voz. Bernardo levantou os olhos e fitou-a com um ar cansado e preocupado. – Como te sentes?
- Onde é que eu estou? – Mafalda sentia a cabeça a andar à roda. Não se lembrava de nada.
- No hospital. – Bernardo respondeu, enquanto lhe segurava a mão.
- Não te lembras de nada?
- A última coisa que me lembro foi de ir para casa do Chico e ficar com ele ate tarde. – fez uma pequena pausa e as memórias começavam a aparecer. – Depois ele foi-me levar a casa de carro e… - parou de falar. O coração começou a bater com mais força ainda. – e tivemos um acidente. O Chico?
Mafalda começou a entrar em pânico. Tentou levantar-se mas tinha demasiadas dores para se conseguir levantar sozinha. Francisca chamou a enfermeira.
- Os teus pais estão quase a chegar. Deita-te, precisas de descansar. – Bernardo acalmou-a. Tinha a sensação de que ele se estava a aproveitar pelo facto de ela estar mais fragilizada, mas mesmo assim, Mafalda deixou-se convencer. Realmente estava demasiado frágil para contestar.
A enfermeira chegou e deu-lhe uns comprimidos. Depois disso, Mafalda voltou a recostar a cabeça na almofada e adormeceu. Sonhou com o acidente, sonhou que nunca mais voltava a ver Francisco, sonhou que ficava com Bernardo e sonhou que a vida dela não era mais nada daquilo que conhecia. Acordou transpirada, com o coração acelerado, a respiração ofegante e a boca seca. Eram três da manhã. Mafalda sentou-se na cama. Não se sentia tão cansada nem tão dorida. Levantou-se e saiu do quarto onde estava, caminhou, descalça, pelo corredor do hospital, lendo todas as folhas de pacientes para saber onde estava Francisco. E lá estava o nome dele. Quarto 12. O coração começou a bater ainda mais, e ela entrou. Aproximou-se da cama dele e sentou-se numa cadeira, admirando-o. Ele dormia profundamente, tinha pontos na testa e um corte no lábio. Mafalda começou a chorar. Tinha um pressentimento de que ele não estava bem. Levantou-se e beijou-o nos lábios. Ele não retribuiu. Depois disso, deitou-se na cama dele e abraçou-o. Ele mexeu-se para o outro lado, deixando mais espaço para ela se deitar e abraçou-a também. No entanto, Francisco não acordou e Mafalda acabou por adormecer agarrada a ele.
No dia seguinte, acordou com Francisco. Ele estava sentado na cama e tinha chamado uma enfermeira. Olhava para Mafalda seriamente. Ela sorriu e levantou-se também, inclinando-se para o abraçar, mas ele afastou-a.
- Ouve, eu não sei quem és, mas dormiste comigo. Se calhar sentes-te um pouco desnorteada. A enfermeira leva-te ao teu quarto.
Mafalda não acreditava no que ele estava a dizer. Não sabia quem ela era? Começou a rir-se.
- Oh Chico, não se brinca com coisas sérias. Como é que te sentes?
Ele voltou a afastá-la e levantou-se da cama. E foi nesse momento que Mafalda percebeu que aquilo não era uma brincadeira. Francisco não se lembrava dela. Ela saiu da cama e caminhou para fora do quarto, sem olhar para trás. Sentia-se desolada.

Caminhou pelo corredor até ao seu quarto e, quando entrou, chorou. Não podia acreditar que era verdade. Deixou-se cair no chão, encostou-se à parede e chorou. Não valia de nada, mas não conseguia evitar, não conseguia suprimir a vontade de chorar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário