No dia
seguinte acordou calma e feliz. Eram onze e meia. Francisca dormia ao seu lado.
Pegou no telemóvel e viu que tinha uma mensagem de Francisco.
És a melhor coisa que me podia ter
acontecido nos últimos tempos. És perfeita e o que faço por ti é porque gosto
imenso de ti e quero que estejas bem quando estás comigo. Dou-te a minha
palavra de que vou fazer tudo para que resulte. És incrível, Mafs.
Pousou o
telemóvel novamente e sorriu. Sentia que as coisas iam melhorar
significativamente e estava feliz por isso. Deixou-se ficar na cama a pensar na
noite anterior e tudo parecia um sonho.
Por volta das
quatro da tarde, Francisca e Mafalda saíram de casa e foram para a praia.
Francisco estava com Camila e Bernardo. Quando Francisco reparou nela,
levantou-se e foi ter com ela.
- Precisamos
de falar.
Mafalda ficou
assustada, mas quando ele lhe deu a mão, reparou que estava tudo bem. Despiu-se
e foi com Francisco até ao mar. A água estava fria, contrastando com o calor
que se fazia sentir naquele dia. Os dois continuavam de mãos dadas. Mafalda
sentia-se segura quando Francisco estava por perto. Sentia que podia contar com
ele para tudo e, acima de tudo, confiava nele. Sentaram-se a olhar para as
ondas, enquanto elas os molhavam. Mafalda esperava que ele falasse com ela, mas
ele permanecia calado. Olhou para ela e ganhou coragem:
- Os teus
olhos estão mais brilhantes que o habitual.
Mafalda sorriu
e olhou para ele também: - É sinal de que estou feliz! – fez uma pequena pausa
e retomou a conversa. – Tu fazes-me feliz.
- Ainda bem
que se nota nos teus olhos. Acredita que fico ainda mais feliz por saber isso! –
mais uma pausa. – Vamos lutar por isto! Aposto que não nos vamos desiludir.
Quero mesmo estar contigo para fortalecermos tudo isto.
-
Acredita que passei imenso tempo a pensar em tudo durante esta noite.
- E então? –
Francisco tinha medo que a resposta que ela lhe ia dar não fosse a que ele
ansiava naquele momento.
- Não há nada
neste mundo que eu queira mais do que seguir em frente e ser feliz e tu foste o
único que me fez sentir felicidade espontânea e que parece duradoura.
- E isso quer
dizer o quê?
- Que tu és tudo o que eu desejo neste
momento!
Francisco
levantou a cabeça e olhou-a nos olhos. Era mesmo verdade o que ela estava a
dizer. Pousou os seus lábios nos dela, levemente, com medo de ser rejeitado,
mas não o foi. Mafalda beijou-o com segurança e abraçou-o no final. Estava
feliz por ter sido capaz de tomar uma decisão daquelas. Levantaram-se e foram
dar um mergulho.
Quando
voltaram para junto dos amigos, não esconderam nada. Mostraram que eram um
casal e Mafalda sentiu-se bem por isso. Gostava da sensação de poder estar com
alguém que a fizesse realmente feliz.
No final do
dia, quando Mafalda e Francisca chegavam a casa, Mafalda recebe uma mensagem.
Era de Bernardo e pedia-lhe para voltar à praia porque queria falar com ela.
- Mafalda,
não te deixes levar pela conversa dele.
- Não te
preocupes. – Mafalda voltou à praia. A noite chegava e o céu escurecia. Viu um
vulto. Bernardo estava sentado à beira-mar. Estava sem camisola, de certeza para
tentar reconquistá-la, pensou ela. Quando chegou junto a ele, manteve-se de pé.
Queria distância dele, não queria cometer o erro de voltar para ele. –
Precisavas de falar comigo?
Bernardo
olhou para cima e não sorriu. Pediu-lhe para se sentar ao seu lado e Mafalda
aceitou o convite. Voltou a olhar em direção ao pôr-do-sol e falou, com uma
expressão grave.
- Tu e o Chico
hoje estavam muito íntimos. – Calou-se à espera de uma resposta, mas Mafalda
continuou calada. Já sabia qual a intenção daquela conversa. – Namoram?
- Acho que é
um pouco óbvio.
Bernardo
olhou para ela, surpreendido pela rispidez na voz da rapariga. Sorriu
tristemente e continuou o seu discurso, adotando depois uma expressão mais
dura.
- Sabes
porque é que hoje a Matilde não veio à praia connosco? Porque eu ontem à noite
acabei com ela. Não suportava mais estar com ela sabendo que também não te
poderia ter e, sinceramente, prefiro ter-te em vez de a ter a ela. Eu amo-te, Mafalda,
dá-me mais uma oportunidade de te fazer feliz.
Mafalda olhou
para ele e riu-se:
- Não
suportavas mais estar com ela sabendo que também não me poderias ter? Só podes
estar a gozar comigo. – Calou-se, respirou fundo e respondeu. – Querias andar
com as duas ao mesmo tempo? Pois bem, agora vais ter de te contentar com a
solidão. Bernardo, as coisas não são sempre como tu queres. Eu estou farta de
me sentir miserável por tua culpa. Não quero ser só mais uma.
- E achas que
para o Chico não és só mais uma?
- Por acaso
acho. Ele compreende-me como tu nunca foste capaz. Ele não me julga pela minha
maneira de ser, aceita-me como sou, coisa que tu nunca fizeste. Chega de pensar
em ti e de estar dependente de ti.
- Nunca vais
encontrar ninguém que te ame tanto como eu, sabes disso.
Ele tinha
voltado a dizer aquelas palavras. Mafalda levantou-se e respondeu duramente:
- Deixa de
pensar que és o maior. Não me amaste assim tanto nem trataste assim tão bem de
mim como tu gostas de mostrar às outras pessoas. Vê se mudas de atitude. Estou
bem melhor sem ti. Adeus.
Mafalda
afastou-se a correr. Adorou a sensação que teve no seu peito. Sentia-se
finalmente livre daquele peso no coração. Tinha conseguido finalmente afastar o
buraco negro da sua vida. Não ia ser mais atirada para a desgraça nem ia ser
mais um íman de problemas. Queria ser feliz e desta vez estava mesmo
determinada a isso.
Subiu o muro
de casa de Francisca e foi ao quarto pegar na mochila. Correu para o metro mais
próximo e esperou pelo metro que a levava à Maia. Ainda demorou cerca de uma
hora a chegar ao destino e caminhou até casa de Francisco. Pegou no telemóvel e
ligou-lhe:
- Estás em
casa?
A resposta
foi afirmativa. Então Mafalda tocou à campainha e passados cerca de trinta
segundos, Francisco estava à porta de casa a olhar para ela, surpreso.
- Que estás
aqui a fazer?
Mafalda não
respondeu. Apenas o beijou intensamente. Francisco puxou-a para dentro de casa
e fechou a porta, sem a largar, e conduziu-a ao seu quarto. Estavam sozinhos e
Mafalda sentia-se preparada, apesar de também achar que se estava a precipitar.
Não quis saber. Francisco encostou-a à parede e beijou-a ainda mais,
mordendo-lhe os lábios, o pescoço. Tirou-lhe a camisola e Mafalda imitou-o,
tirando-lhe também a camisola. Ele pegou-lhe ao colo e encostou-a à parede. Nenhum
dos dois alguma vez tinha sentido o que estavam a sentir naquele momento. Mas Francisco
parou.
- Porque é
que estás a parar?
- Mafalda, eu
amo-te! Não sei o que se passou mas acho isto tudo muito precipitado. Eu quero,
juro por tudo que quero sentir-te ainda mais, mas quero que tenhas a certeza
disto. É muito cedo ainda. Desculpa…
Mafalda deu-lhe
um beijo suave nos lábios.
- Tens razão.
Nem sei o que me passou pela cabeça, mas precisava mesmo de estar contigo.
- Fica comigo
mais um pouco. Eu também preciso de estar contigo, preciso de te proteger, de
te fazer sentir segura. Quero que confies em mim como nunca confiaste em
ninguém. – Beijou-a novamente. - Fica aqui em casa até às horas que quiseres,
depois eu levo-te a casa.
Deitaram-se
os dois na cama, abraçados. Não precisavam de falar. Sentiam-se confortáveis
daquela maneira, porque sabiam que tinham o apoio um do outro para o que quer
que fosse. Sabiam que estavam ligados e que ia correr tudo bem. Sabiam que o
sentimento que existia entre os dois ia crescer, ia durar. Sabiam que ambos iam
cuidar um do outro, porque era por isso que o destino os tinha juntado. Ambos
precisavam um do outro para serem felizes.
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