Nessa noite,
deitou-se e não conseguia adormecer. Só conseguia pensar nele e no que tinha
acontecido. Um turbilhão de pensamentos passou-lhe pela cabeça. Tinha medo de
os seus sentimentos estarem confundidos. Queria, pela primeira vez na sua vida,
ter uma relação estável, que a fizesse sentir segura e feliz. Queria amar
desmedidamente e tinha medo de estar enganada e de magoar Francisco. Ele era
impecável e cuidava sempre dela, mesmo quando Mafalda o afastava. Ele nunca
tinha desistido dela. Nunca. E isso era raro nas relações que Mafalda mantinha.
As pessoas acabavam sempre por desistir dela pela sua maneira de ser, por ser
tão complicada. Sabia que às vezes mostrava que não queria saber, mas
provavelmente era a que mais se preocupava com as pessoas, mas à sua maneira.
Isto acontecia também com as suas amizades. Mafalda tinha medo de perder
Francisca, tinha medo de lhe dizer o que sentia acerca da sua amizade. Ela era
a sua melhor amiga, uma irmã acima de tudo, que a apoiava sempre, nunca a tinha
desiludido e duvidava que o fizesse. Contudo, Mafalda tinha medo de a perder a
toda a hora, e se isso acontecesse, a culpa seria dela por nunca lhe ter dito o
quão importante ela era na sua vida.
E depois de
tudo, pensou em Bernardo. A relação deles tinha sido mágica para ela. Mas essa
magia resumia-se ao amor que ela sentia por ele e ao facto de ter medo de o
perder. Lá no fundo, Mafalda sabia que ele nunca tinha sentido por ela nem
metade do que Mafalda havia sentido por ele. E sentiu-se magoada ao pensar
nisso. Chorou. Sentia falta dele, mesmo com tudo o que tinha acontecido naquela
noite, mas tinha de se libertar. Tinha sentido algo por Francisco. Era tipo um
amor ainda pouco desenvolvido, não muito arrebatado nem desmedido, mas era
amor. Nunca tinha pensado em amar duas pessoas ao mesmo tempo, e nesse momento
apercebeu-se que era isso que estava a acontecer. Por Francisco sentia um amor
novo, que lhe fazia bem ao coração. Aqueles beijos tinham desencadeado
sensações nunca antes sentidas; arrepios que faziam o seu coração bater mais
depressa e ansiar por mais. Com Bernardo sentia exatamente os mesmos arrepios,
mas quando o coração começava a bater mais depressa, provocava-lhe uma dor no
peito, como se soubesse que o que tinham ia acabar no momento a segui. Sentia
arrepios, sim, só que esses arrepios faziam-na temer pela perda. Ela sabia que
ele estava apaixonado por ela, mas não a amava. Os olhos de Francisco mostravam
precisamente o contrário; a fase da paixão já tinha passado, e neste momento
ele amava Mafalda e queria cuidar dela, fazê-la feliz, queria fazê-la acreditar
novamente no amor.
Parou de
pensar. Sentiu outro arrepio no peito. A esperança tinha voltado. Sentia que
podia voltar a ser feliz com outra pessoa para além de Bernardo. Nunca mais vais voltar a encontrar alguém
que te trate tão bem como eu, e tu sabes disso, e Mafalda apercebeu-se que
não, não sabia isso. Sabia que ainda era muito nova para fazer depender a sua
vida de um rapaz que a fez sofrer.
Fechou os
olhos e sorriu. Estava determinada a seguir em frente, por mais que lhe
custasse no início. Pela primeira vez desde há meses, queria aprender a amar
outra pessoa, queria fazer crescer aquilo que já sentia por Francisco. Sabia
que não ia demorar muito até estar totalmente apaixonada por ele. Alias, ele
era atraente, simpático e fazia-a rir sempre, eram iguais em tantas coisas.
Acreditava mesmo que o que sentia por ele ia crescer, talvez atá à velocidade
da luz!
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