sábado, 3 de agosto de 2013

parte VI

Nessa noite, deitou-se e não conseguia adormecer. Só conseguia pensar nele e no que tinha acontecido. Um turbilhão de pensamentos passou-lhe pela cabeça. Tinha medo de os seus sentimentos estarem confundidos. Queria, pela primeira vez na sua vida, ter uma relação estável, que a fizesse sentir segura e feliz. Queria amar desmedidamente e tinha medo de estar enganada e de magoar Francisco. Ele era impecável e cuidava sempre dela, mesmo quando Mafalda o afastava. Ele nunca tinha desistido dela. Nunca. E isso era raro nas relações que Mafalda mantinha. As pessoas acabavam sempre por desistir dela pela sua maneira de ser, por ser tão complicada. Sabia que às vezes mostrava que não queria saber, mas provavelmente era a que mais se preocupava com as pessoas, mas à sua maneira. Isto acontecia também com as suas amizades. Mafalda tinha medo de perder Francisca, tinha medo de lhe dizer o que sentia acerca da sua amizade. Ela era a sua melhor amiga, uma irmã acima de tudo, que a apoiava sempre, nunca a tinha desiludido e duvidava que o fizesse. Contudo, Mafalda tinha medo de a perder a toda a hora, e se isso acontecesse, a culpa seria dela por nunca lhe ter dito o quão importante ela era na sua vida.  
E depois de tudo, pensou em Bernardo. A relação deles tinha sido mágica para ela. Mas essa magia resumia-se ao amor que ela sentia por ele e ao facto de ter medo de o perder. Lá no fundo, Mafalda sabia que ele nunca tinha sentido por ela nem metade do que Mafalda havia sentido por ele. E sentiu-se magoada ao pensar nisso. Chorou. Sentia falta dele, mesmo com tudo o que tinha acontecido naquela noite, mas tinha de se libertar. Tinha sentido algo por Francisco. Era tipo um amor ainda pouco desenvolvido, não muito arrebatado nem desmedido, mas era amor. Nunca tinha pensado em amar duas pessoas ao mesmo tempo, e nesse momento apercebeu-se que era isso que estava a acontecer. Por Francisco sentia um amor novo, que lhe fazia bem ao coração. Aqueles beijos tinham desencadeado sensações nunca antes sentidas; arrepios que faziam o seu coração bater mais depressa e ansiar por mais. Com Bernardo sentia exatamente os mesmos arrepios, mas quando o coração começava a bater mais depressa, provocava-lhe uma dor no peito, como se soubesse que o que tinham ia acabar no momento a segui. Sentia arrepios, sim, só que esses arrepios faziam-na temer pela perda. Ela sabia que ele estava apaixonado por ela, mas não a amava. Os olhos de Francisco mostravam precisamente o contrário; a fase da paixão já tinha passado, e neste momento ele amava Mafalda e queria cuidar dela, fazê-la feliz, queria fazê-la acreditar novamente no amor.
Parou de pensar. Sentiu outro arrepio no peito. A esperança tinha voltado. Sentia que podia voltar a ser feliz com outra pessoa para além de Bernardo. Nunca mais vais voltar a encontrar alguém que te trate tão bem como eu, e tu sabes disso, e Mafalda apercebeu-se que não, não sabia isso. Sabia que ainda era muito nova para fazer depender a sua vida de um rapaz que a fez sofrer.

Fechou os olhos e sorriu. Estava determinada a seguir em frente, por mais que lhe custasse no início. Pela primeira vez desde há meses, queria aprender a amar outra pessoa, queria fazer crescer aquilo que já sentia por Francisco. Sabia que não ia demorar muito até estar totalmente apaixonada por ele. Alias, ele era atraente, simpático e fazia-a rir sempre, eram iguais em tantas coisas. Acreditava mesmo que o que sentia por ele ia crescer, talvez atá à velocidade da luz!

Nenhum comentário:

Postar um comentário