terça-feira, 23 de julho de 2013

parte V

Passaram-se dias, e Mafalda e Bernardo encontravam-se sempre na praia, com os amigos, mas nunca se falavam. Trocavam alguns olhares, mas era tudo. Mafalda não tentava falar sobre isso porque sabia que ele ia dizer que tinha sido o sentimento do momento e ela não estava preparada para ouvir isso, não queria ficar ainda mais desiludida.
Francisco continuava a tentar aproximar-se de outra forma, mas ela cada vez o afastava mais. Queria-o como amigo e tinha medo de aceitar ser mais do que isso. Não gostava de magoar as pessoas e, no entanto, parecia que era inevitável para ela magoar aqueles de quem mais gostava.
Mafalda e Francisca estavam a preparar-se. Iam sair à noite naquele dia. Mafalda tinha vestido umas calças pretas e uma camisa de ganga e tinha calçado as Vans pretas. Francisca tinha optado por umas calças de ganga, uma camisola verde e calçava umas All Stars brancas.
- O que é que se passa contigo? – Mafalda tinha andado estranha nesses últimos dias, não queria fazer nada demais, queria apenas estar sozinha. Na praia, punha os auscultadores e só os tirava para ir dar um mergulho ou para jogar voleibol de praia.
- Nada.
- Mafs, sou a tua melhor amiga, diz-me o que é que se passa!
Mafalda suspirou. Não sabia se devia contar mas já estava tão cansada de andar triste por causa de Bernardo que decidiu contar tudo a Francisca. Contou-lhe da noite da festa na praia, em que ela acordou a meio da noite e não tinha sono, e falou no dia em que se beijaram. Francisca ficou boquiaberta, mas não disse nada. Sentou-se ao pé da amiga e abraçou-a.
- Ouve, hoje é dia de festa e vais-te divertir. Bebes qualquer coisa só pra esquecer um pouco a situação e ignora-o. Dá-lhe motivos para vir atrás de ti. Ou então ignora-o simplesmente porque é o melhor para ti e já está na altura de seguires em frente.
Francisca está certa, pensou Mafalda. Não podia continuar atrás de algo que só lhe trazia problemas. Estava na altura de seguir em frente de vez.
Saíram de casa e Bruno e Francisco estavam à espera delas. Foram para o bar, onde já estavam Bernardo e Matilde e mais alguns amigos.
Foram sentar-se todos numas almofadas que rodeavam uma mesa. Francisco foi o último a chegar e sentou-se na mesma almofada que Mafalda. Nessa noite, Mafalda sentia que eram só eles os dois e não estava a perceber essa sensação. Francisco sempre tinha cuidado dela, sempre se tinha preocupado e sempre a tinha deixado ser ela. Não tinha medo de mostrar o pior de si, porque sabia que ele gostava dela e que a aceitava pelo que era. Estavam a falar de tudo e de nada e, a uma certa altura, calaram-se e ficaram a olhar um para o outro. Sentiu que o podia beijar, mas acima de tudo, sentiu que o queria fazer. Francisco apercebeu-se disso e quando estavam a poucos milímetros um do outro, ele apenas sussurrou que queria dançar com ela e levantou-se, estendendo-lhe a mão. Ela aceitou. Não percebia porque estava a fazer isso ou porque é que estava a sentir aquele carinho por ele. Tinha medo de o estar a usar para esquecer Bernardo, mas também sentia que era mais do que isso, pois Bernardo não tinha existido para ela durante toda aquela noite. Mas deixou de pensar. Queria apenas aproveitar o momento. Deixou-se guiar por Francisco. Começaram a dançar e ela pousou a cabeça no ombro dele e ele abraçou-a com força. Sentia-se segura com ele. Ficaram a dançar abraçados durante imenso tempo.
Estavam rodeados de pessoas a dançar e Francisco queria estar a sós com Mafalda. Afastou-a dele, deu-lhe a mão e tirou-a daquele sítio. Lá fora ainda estava calor, e eram poucas as pessoas que ainda andavam por ali àquelas horas. Ele sentou-se numa escada de um apartamento e ela sentou-se ao pé dele.

- Gosto de estar contigo. – Mafalda aproximou-se mais dele depois de pronunciar aquelas palavras. Pegou-lhe na mão e pousou novamente a cabeça no ombro dele. Sentia que ia acontecer e não tinha medo. Queria sentir o calor da boca dele, os seus lábios suaves e a sua respiração sempre calma. Contudo, Francisco continuava a olhar em frente. Parecia nervoso, mas ansioso. E foi quando aconteceu. Ele começou a olhar para o lado dela, baixou a cabeça e beijou-a. E ela sentiu que gostava daquela simplicidade. Aquele beijo provocou-lhe arrepios, a coração começou a bater mais forte mas ela não quis mudar nada. Não quis parar nem quis aumentar a intensidade, porque estava perfeito assim. Sentiu que pertencia àquele rapaz. Quando acabou, apenas sorriram. Ele pediu-lhe para ela se sentar nas pernas dele e ela fê-lo. Estava feliz, sentia-se como já não se sentia há muito tempo. Sentia-se compreendida, sentia-se amada. 

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