Passaram-se
dias, e Mafalda e Bernardo encontravam-se sempre na praia, com os amigos, mas
nunca se falavam. Trocavam alguns olhares, mas era tudo. Mafalda não tentava
falar sobre isso porque sabia que ele ia dizer que tinha sido o sentimento do
momento e ela não estava preparada para ouvir isso, não queria ficar ainda mais
desiludida.
Francisco continuava
a tentar aproximar-se de outra forma, mas ela cada vez o afastava mais.
Queria-o como amigo e tinha medo de aceitar ser mais do que isso. Não gostava
de magoar as pessoas e, no entanto, parecia que era inevitável para ela magoar aqueles
de quem mais gostava.
Mafalda e
Francisca estavam a preparar-se. Iam sair à noite naquele dia. Mafalda tinha
vestido umas calças pretas e uma camisa de ganga e tinha calçado as Vans
pretas. Francisca tinha optado por umas calças de ganga, uma camisola verde e
calçava umas All Stars brancas.
- O que é que
se passa contigo? – Mafalda tinha andado estranha nesses últimos dias, não
queria fazer nada demais, queria apenas estar sozinha. Na praia, punha os
auscultadores e só os tirava para ir dar um mergulho ou para jogar voleibol de
praia.
- Nada.
- Mafs, sou a
tua melhor amiga, diz-me o que é que se passa!
Mafalda
suspirou. Não sabia se devia contar mas já estava tão cansada de andar triste
por causa de Bernardo que decidiu contar tudo a Francisca. Contou-lhe da noite
da festa na praia, em que ela acordou a meio da noite e não tinha sono, e falou
no dia em que se beijaram. Francisca ficou boquiaberta, mas não disse nada.
Sentou-se ao pé da amiga e abraçou-a.
- Ouve, hoje é
dia de festa e vais-te divertir. Bebes qualquer coisa só pra esquecer um pouco
a situação e ignora-o. Dá-lhe motivos para vir atrás de ti. Ou então ignora-o
simplesmente porque é o melhor para ti e já está na altura de seguires em
frente.
Francisca está
certa, pensou Mafalda. Não podia continuar atrás de algo que só lhe trazia
problemas. Estava na altura de seguir em frente de vez.
Saíram de casa
e Bruno e Francisco estavam à espera delas. Foram para o bar, onde já estavam
Bernardo e Matilde e mais alguns amigos.
Foram
sentar-se todos numas almofadas que rodeavam uma mesa. Francisco foi o último a
chegar e sentou-se na mesma almofada que Mafalda. Nessa noite, Mafalda sentia
que eram só eles os dois e não estava a perceber essa sensação. Francisco
sempre tinha cuidado dela, sempre se tinha preocupado e sempre a tinha deixado
ser ela. Não tinha medo de mostrar o pior de si, porque sabia que ele gostava
dela e que a aceitava pelo que era. Estavam a falar de tudo e de nada e, a uma
certa altura, calaram-se e ficaram a olhar um para o outro. Sentiu que o podia
beijar, mas acima de tudo, sentiu que o queria fazer. Francisco apercebeu-se
disso e quando estavam a poucos milímetros um do outro, ele apenas sussurrou
que queria dançar com ela e levantou-se, estendendo-lhe a mão. Ela aceitou. Não
percebia porque estava a fazer isso ou porque é que estava a sentir aquele
carinho por ele. Tinha medo de o estar a usar para esquecer Bernardo, mas
também sentia que era mais do que isso, pois Bernardo não tinha existido para
ela durante toda aquela noite. Mas deixou de pensar. Queria apenas aproveitar o
momento. Deixou-se guiar por Francisco. Começaram a dançar e ela pousou a
cabeça no ombro dele e ele abraçou-a com força. Sentia-se segura com ele. Ficaram
a dançar abraçados durante imenso tempo.
Estavam rodeados
de pessoas a dançar e Francisco queria estar a sós com Mafalda. Afastou-a dele,
deu-lhe a mão e tirou-a daquele sítio. Lá fora ainda estava calor, e eram poucas
as pessoas que ainda andavam por ali àquelas horas. Ele sentou-se numa escada
de um apartamento e ela sentou-se ao pé dele.
- Gosto de
estar contigo. – Mafalda aproximou-se mais dele depois de pronunciar aquelas
palavras. Pegou-lhe na mão e pousou novamente a cabeça no ombro dele. Sentia
que ia acontecer e não tinha medo. Queria sentir o calor da boca dele, os seus
lábios suaves e a sua respiração sempre calma. Contudo, Francisco continuava a
olhar em frente. Parecia nervoso, mas ansioso. E foi quando aconteceu. Ele
começou a olhar para o lado dela, baixou a cabeça e beijou-a. E ela sentiu que
gostava daquela simplicidade. Aquele beijo provocou-lhe arrepios, a coração
começou a bater mais forte mas ela não quis mudar nada. Não quis parar nem quis
aumentar a intensidade, porque estava perfeito assim. Sentiu que pertencia
àquele rapaz. Quando acabou, apenas sorriram. Ele pediu-lhe para ela se sentar
nas pernas dele e ela fê-lo. Estava feliz, sentia-se como já não se sentia há
muito tempo. Sentia-se compreendida, sentia-se amada.
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