sexta-feira, 12 de julho de 2013

parte III

Acordou com Francisco a fazer-lhe cócegas.
- Anda, vamos correr. – Já eram dez horas e Mafalda estava cheia de sono. A noite tinha sido longa e o facto de ter ido correr por volta das seis da manhã fazia-a sentir-se de rastos. Tapou-se com a manta e começou a gritar. – Para com esses ataques e vem correr.
- Não. – continuou Mafalda. - Já fui correr, não conseguia dormir. Não vou correr mais.
- Parva. – Francisco deitou-se ao pé dela e ficou a olhar para o céu. Mafalda abraçou-o e deitou a cabeça no peito dele e, instintivamente, ele abraçou-a também. – Estás bem?
- Estou!
Permaneceram calados até o resto do pessoal acordar e começar a fazer gracinhas sobre o facto de eles estarem tão cúmplices. Bernardo olhou para ela e Mafalda viu na sua expressão uma tristeza incontrolável. Mas ele virou rapidamente a cara e também começou a rir.
O dia passou rápido. Tinha estado calor. Mafalda tinha passado o tempo todo com Francisco, mas era Bernardo que não lhe saia dos pensamentos. Sentia-se cada vez mais próxima de Francisco e isso estava a magoar-lhe o coração porque não queria iludi-lo, apesar de saber que já o tinha feito.
Por volta das sete da tarde, Francisco levou-a a casa.
- Ouve, como a Francisca vai jantar a casa do Bruno, não queres vir jantar comigo? – Francisco começou a falar e agarrou-lhe na mão. Mafalda não sabia o que fazer. Não o queria desapontar mas não lhe podia dar mais esperanças. Preferiu inventar uma desculpa.
- Chico, estou mesmo cansada. Preciso de dormir. – deu-lhe um beijo na cara, largou a mão dele e entrou em casa da amiga. – Até amanha.
- Até amanhã.
Subiu lentamente as escadas para o quarto. Sabia que estava sozinha em casa, mas decidiu esperar até entrar no quarto e, quando entrou e fechou a porta, chorou. Doía-lhe o peito e parecia que não chorava há meses. Acabou por adormecer embalada na sua tristeza. Acordou com o telemóvel a tocar. Outra vez um sonho, pensou. A chamada era de Bernardo. Aclarou a voz e atendeu, aproximando o telemóvel do ouvido a medo.
- Sim?
- Olá.
Mafalda ficou calada. Não sabia que dizer depois de ouvir a voz dele. Sentia que aquilo era um sonho e não queria. Queria que aquela palavra fosse real, por mais insignificante que fosse.
- Morreste? – repetiu Bernardo. Parecia impaciente.
- Não. – Mafalda sorriu.
- Ahah pensei. – fez uma pequena pausa e mudou o tom de voz. Mafalda sentiu preocupação por parte dele quando começou a falar. – Só queria saber como estavas. Ontem à noite quando estivemos juntos começaste a chorar imenso e eu não disse nada e passei o dia todo a pensar em como tinha sido um atrasado mental.
Mafalda ficou estarrecida. Então tinha sido verdade. Eles tinham estado abraçados e ela tinha provavelmente adormecido no ombro dele enquanto chorava. Sentiu-se envergonhada, mas essa sensação passou rápido.
- Eu estou bem e tu? – não conseguiu dizer mais nada. Não queria parecer que ainda gostava dele, apesar de ter noção de que se notava e muito.
- Eu também. – mais uma pausa. – Olha, vais fazer alguma coisa hoje à noite?
- Ainda não sei, porquê?
- Hum, pensei que podias descer, já que estou à tua porta.
- O quê?
- Estou na parte que dá para a praia. Desces?
- Espera. – desligou o telemóvel e meteu-o no bolso dos calções. Desceu as escadas a correr, parou e olhou-se ao espelho do corredor. Sentiu-se nervosa como da primeira vez que tinham estado juntos. Descalçou-se ainda, visto que iam para a praia, e saiu pela janela da cozinha, que dava para o jardim. Correu para o muro e pendurou-se nele, apenas para ter a certeza que ele estava lá à sua espera e não era uma piada de muito mau gosto. Pois, não era. Ele estava lá, com uma t-shirt verde e uns calções de ganga escura. Ela sentou-se em cima do muro e saltou.
- Desculpa se nem me dei ao trabalho de mudar de roupa, mas presumo que isto seja rápido. – falou rigidamente, não queria mostrar interesse.
- Demora o tempo que tu quiseres que demore. – pegou-lhe na mão e começou a caminhar para o mar. – Um último mergulho?
Mafalda olhou para o mar, depois para Bernardo e sorriu. Começou a despir-se e correu para o mar, mas parou mal uma onda lhe tocou no pé. Bernardo parou ao pé dela.
- Medo?
- Frio.
- Podemos tratar disso. – pegou nela ao colo e correu para o mar. Deixando-a cair e mergulhando logo a seguir. Ficaram algum tempo na água, a nadar. Mas Mafalda estava intrigada. Não percebia o que estava a acontecer. Não percebia o significado daquela situação. Entretanto, a noite tinha caído.
- Bernardo, o que é que te fez mudar de ideias?
Ele olhou para ela, um tanto admirado pela pergunta.
- Como assim?
- O que é que te fez deixar de me odiar e passar a tolerar-me outra vez? Sei que estraguei as coisas mas isto não funciona assim. Não podes simplesmente aparecer e decidir que podemos voltar a ser amigos.

- Eu nunca mudei de ideias, Mafalda. Eu nunca te odiei, mas sentia-me magoado. E ouvir a tua voz magoa-me ainda mais. Lembra-me o facto de não ter sido tolerante e de não ter percebido a tua posição. E depois não tive coragem para voltar atrás na minha palavra, exatamente porque me sentia magoado. Mas ao ver-te ontem e hoje fez-me acreditar que nem tudo estivesse perdido, ou melhor, esquecido… - Bernardo avançou para ela e deu-lhe um beijo suave nos lábios. Depois parou, olharam-se nos olhos e voltaram a beijar-se, com mais intensidade. Bernardo agarrou-a pela cintura e puxou-a a para si e, depois, pegou nela ao colo. E ficaram assim alguns minutos, que pareceram eternidades. 

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