"O vicio é característico de todas as paixões. Começa sempre quando o objecto de adoração nos administra uma dose alucinogénia de algo que nem sequer nos atreveríamos a admitir que queríamos, por exemplo, uma dose de amor tempestuoso e excitação ruidosa. Em breve, começamos a ansiar por aquela atenção intensa, com a ávida obsessão de qualquer drogado. Quando a droga é cortada, ficamos imediatamente nauseados, loucos e vazios (para não falar no rancor contra o traficante que encorajou aquele vicio, mas que agora se recusa a fornecer o material, apesar de sabermos que ele o tem escondido algures porque costumava dá-lo de graça). A fase seguinte encontra-nos escanzelados e trémulos numa esquina, com a única certeza que venderíamos a alma ou assaltaríamos os vizinhos só para ter aquela coisa mais uma vez. Entretanto, o objecto da nossa adoração sente agora repulsa por nós. Olha-nos como se fossemos alguém que nunca tivesse visto antes, muito menos alguém que tivesse amado outrora com grande paixão. O que é irónico é que é difícil censura-lo por isso. Basta olharmos para nós e ver aquilo em que nos tornámos, uns seres patéticos que até nós próprios temos dificuldade em reconhecer. É isso mesmo. Chegámos agora ao ultimo destino da paixão: a inexorável perda da auto-estima"
- comer, orar, amar
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