Nada melhor do
que começar o dia com uma viagem. Há um mês que estava presa em casa e
finalmente ia passar férias com os amigos. Mafalda tinha saído há poucos
minutos de Coimbra e dirigia-se então para o Grande Porto.
Adorava
viajar. Gostava de estar sozinha num banco de comboio a ouvir a sua música e a
pensar. Mas o que mais detestava nas viagens era que os seus pensamentos levavam-na
para sítios que não devia, para estar com pessoas proibidas. Mafalda tinha
noção que nesse mês que ia estar com os amigos ia vê-lo muitas vezes, mas
também se tinha preparado para isso. Já tinham passado oito meses desde que se
tinham chateado e Mafalda achava que o tinha esquecido, mas sempre que se
lembrava dele, chorava. Mafalda acreditava mesmo que aquele tinha sido o amor
da vida dela e ficava triste por o ter deixado ir sem ter lutado mais. Muitas
vezes pensava porque é que a sua vida não era como as histórias de Nicholas
Sparks, onde depois de muitos problemas, acabavam sempre juntos.
Pelo que
sabia, Bernardo namorava e pelo que as amigas lhe tinham dito, eram mesmo
perfeitos um para o outro. O que elas não sabiam era que ela ainda o amava como
da primeira vez. O amor que ela sentia por ele era como as manhãs de Natal. À
medida que se cresce, pensa-se que não vai haver aquela euforia, mas quando
chega o momento, há sempre aquela euforia. E era isso que ela sentia. Sempre
que começava a acreditar que o que ela sentia se estava a apagar, havia sempre
alguma coisa que fazia com que a chama voltasse a acender.
O comboio
parou. Lá estava ela, na estação de S. Bento, na cidade mais perfeita de
Portugal, e estava preparada para umas férias inesquecíveis. Quando saiu do
comboio, viu a sua melhor amiga a correr para ela. Francisca parecia a verdadeira
surfista. Pele morena, queimada pelo sol, os olhos ainda mais verdes e o cabelo
ainda mais loiro.
- Finalmente
juntas, Mafaldinha. Estava a morrer de saudades tuas. – disse Francisca
enquanto a abraçava.
- Podes crer.
Estive o mês de julho todo à espera deste dia. Que vamos fazer estas férias? –
Mafalda estava ansiosa por saber tudo o que Francisca tinha reservado para ela,
mas Francisca explicou-lhe que ainda não tinha nada planeado.
A mãe de
Francisca, estava à espera delas para as levar a casa. A viagem fez-se rápido.
Kika morava em Leça da Palmeira e a sua casa era uma vivenda com jardim mesmo à
frente da praia.
- Ainda é cedo
para irmos para a praia. Que tal irmos arrumar as coisas? Arranjei um espacinho
no meu armário para arrumares as tuas coisas.
- Kika, a
sério? Não acredito que arrumaste o quarto só por minha causa. – Mafalda falou
num tom de ironia porque sabia que a amiga não se importava de ter uma mala
aberta no meio do chão durante um mês inteiro.
- Já sabes
como é!
Arrumaram tudo
durante a manhã e, depois de almoço, o namorado de Francisca apareceu.
Disse-lhes que tinham de ir para a praia e levar mantas porque iam passar a
noite na praia. Era a festa daquele dia, pensou Mafalda.
- Ai, vai ser
tão perfeito! Mafs, vais conhecer um rapaz novo.
Mafalda
riu-se. Não queria conhecer rapazes novos. Queria divertir-se, apenas, mas não
queria mais ninguém para além de Bernardo.
Pegaram nas
toalhas, algumas mantas, encheram as mochilas de bolachas, ainda prepararam
rapidamente umas sandes para o jantar e foram para a praia. Quando lá chegaram,
Mafalda paralisou. Bernardo e a sua namorada estavam lá e faziam parte do grupo
com que ia passar o verão. Estavam os dois a jogar voleibol de praia contra
Francisco e Camila, outros dos seus grandes amigos. Mal a viu, Francisco parou
de jogar e correu para ela, abraçando-a.
- Mafs, que
saudades! Anda jogar, a Camila já está cansada. – falou enquanto Camila se
aproximava deles e abraçava a amiga.
- Iá, podes
ir, é tranquilíssimo. – Camila sorriu e Mafalda percebeu que os rumores eram
verdadeiros. Francisco gostava dela e isso era péssimo, porque Mafalda
considerava-o um grande amigo. Ele não lhe era indiferente, mas também era uma
das poucas pessoas com quem podia ser verdadeira e não queria estragar a
relação que tinham. Tirou a camisola e os calções e foi com Francisco para o
campo de voleibol.
- Tens de
mostrar aí ao pessoal que estás bem. – Chico abraçou-a novamente, já dentro de
campo e sussurrou. Ele sabia que ela ainda gostava de Bernardo e queria que ela
seguisse em frente. Tentava ajudá-la sempre que podia e ela admirava imenso
isso na personalidade dele. O único problema dele era gostar dela.
Começaram a
jogar. A namorada de Bernardo, Matilde, jogava muito bem, para além de ser
alta, ter um cabelo que fazia inveja a qualquer rapariga e ser bonita. Mas como
Francisco dizia, era demasiado normal. O dia passou-se todo assim. Francisca
estava quase sempre com o namorado, e Mafalda passava o tempo com Chico e
Camila, e Bernardo estava sempre agarrado a Matilde.
- Podes parar
de olhar para eles, se quiseres… - disse Francisco a uma certa altura, quando
Bernardo pegou em Matilde e a atirou para o mar.
- Ele parece
que está a fazer isto para me irritar.
- E está. –
disse Francisca, libertando-se um pouco do namorado. – E também está a
conseguir, não é verdade?
Passados
alguns minutos, Francisco levantou-se, pegou na mão de Mafalda e levantou-a. –
Vamos estrar no esquema deles. – disse, dando-lhe um beijo na cara.
- Chico, não
precisas de fazer isto. Eu aguento bem!
- É Verão,
aproveita, por favor. Sabes que gosto de ti, mas agora nem estou a pensar
nisso. Vamos aproveitar isto e irritá-lo também. – dito isto, começaram a
correr de mãos dadas para o mar. Mafalda parou quando uma onda lhe tocou no pé
e começou aos saltos e a rir.
- Está muito
fria, não vou entrar!
- Acho que não
tens escolha. – Francisco voltou atrás, pegou nela e correu rapidamente para o
mar, enquanto ela esperneava, gritava e ria nos braços dele. Depois disso,
ficaram no mar, a nadar, a aproveitar o tempo. Bernardo olhava para os dois e notava-se
que estava incomodado, pois estava sempre de olhos postos nos dois amigos.
O dia passou e
chegou a noite. Mafalda e Francisco estavam os dois abraçados e cobertos com a
mesma manta, tal como Bernardo e Matilde, e Francisca, Camila e Bruno, o
namorado de Francisca, estavam a preparar as coisas para a noite. Enquanto
Bruno acendia a fogueira, Camila e Francisca foram buscar bebidas e pacotes de
batatas fritas e pipocas. Francisco tirou as colunas da mochila e começou a pôr
música, principalmente reggae.
Francisco
começou a beber mal chegaram as cervejas e a vodka, e depois juntaram-se todos,
menos Mafalda e Bernardo, que se tinham disponibilizado para tomar conta do
grupo. A noite passou, foram todos dar o último mergulho da noite e por volta
das 4 da manhã, toda a gente já estava a dormir, exceto Mafalda. Estava
demasiado perturbada por toda aquela situação. Levantou-se. Simplesmente não
conseguia estar deitada no mesmo sítio que ele. Parecia que estava demasiado
perto dele e ao mesmo tempo sentia que continuava longe. Não tinham trocado uma
única palavra e ele comportava-se como se continuassem chateados mas os olhares
que trocavam diziam precisamente o contrário.
Levou a manta às costas e caminhou à beira-mar. Começou a sentir-se mais
calma, ao ouvir as ondas e ao sentir a água fria a tocar-lhe nos pés. Por fim
sentou-se a contemplar a escuridão do oceano, com a lua cheia bem no alto do
céu a iluminar toda a praia. Começou a pensar no verão passado, nos momentos
que tinha passado com Bernardo. Sabia que nunca ia amar ninguém como o tinha
amado a ele. Nunca tinha percebido porque é que os grandes amores nunca eram os
que faziam bem às pessoas até o ter conhecido. Porque quando amamos de verdade,
fazemos tudo para que essa pessoa esteja bem, pensou Mafalda. Sentia-se fraca
por não poder mostrar-lhe o que sentia por ele e o quanto o queria proteger e
fazê-lo feliz.
Ouviu um
barulho e, num instante, todos os seus pensamentos desapareceram e olhou para o
lado, assustada.
- Posso? –
Bernardo estava ao pé dela, levantado, a olhar para ela com uns olhos verdes
penetrantes. Mafalda não conseguiu dizer nada, apenas acenou. Não conseguia
perceber se era um sonho ou ser era mesmo realidade. Ele sentou-se ao pé dela,
e cobriu-se com a manta dela, sem pedir, abraçando-a. – Estás gelada. –
sussurrou.
Mafalda deixou
cair a cabeça no ombro dele e começou a chorar. Queria parar mas sentia que
estava descontrolada. Ele apertou-a com mais força e deu-lhe um beijo na testa.
Pegou-lhe na mão e ficaram assim durante muito tempo, até Mafalda acabar por
adormecer embalada pelas lágrimas. Bernardo pegou nela ao colo e levou-a para
perto dos amigos, deixando-a no sítio onde ela estava, perto de Francisco.
Depois disso, foi deitar-se perto de Matilde, acabando também por adormecer.
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