sexta-feira, 12 de julho de 2013

parte I

Nada melhor do que começar o dia com uma viagem. Há um mês que estava presa em casa e finalmente ia passar férias com os amigos. Mafalda tinha saído há poucos minutos de Coimbra e dirigia-se então para o Grande Porto.
Adorava viajar. Gostava de estar sozinha num banco de comboio a ouvir a sua música e a pensar. Mas o que mais detestava nas viagens era que os seus pensamentos levavam-na para sítios que não devia, para estar com pessoas proibidas. Mafalda tinha noção que nesse mês que ia estar com os amigos ia vê-lo muitas vezes, mas também se tinha preparado para isso. Já tinham passado oito meses desde que se tinham chateado e Mafalda achava que o tinha esquecido, mas sempre que se lembrava dele, chorava. Mafalda acreditava mesmo que aquele tinha sido o amor da vida dela e ficava triste por o ter deixado ir sem ter lutado mais. Muitas vezes pensava porque é que a sua vida não era como as histórias de Nicholas Sparks, onde depois de muitos problemas, acabavam sempre juntos.
Pelo que sabia, Bernardo namorava e pelo que as amigas lhe tinham dito, eram mesmo perfeitos um para o outro. O que elas não sabiam era que ela ainda o amava como da primeira vez. O amor que ela sentia por ele era como as manhãs de Natal. À medida que se cresce, pensa-se que não vai haver aquela euforia, mas quando chega o momento, há sempre aquela euforia. E era isso que ela sentia. Sempre que começava a acreditar que o que ela sentia se estava a apagar, havia sempre alguma coisa que fazia com que a chama voltasse a acender.
O comboio parou. Lá estava ela, na estação de S. Bento, na cidade mais perfeita de Portugal, e estava preparada para umas férias inesquecíveis. Quando saiu do comboio, viu a sua melhor amiga a correr para ela. Francisca parecia a verdadeira surfista. Pele morena, queimada pelo sol, os olhos ainda mais verdes e o cabelo ainda mais loiro.
- Finalmente juntas, Mafaldinha. Estava a morrer de saudades tuas. – disse Francisca enquanto a abraçava.
- Podes crer. Estive o mês de julho todo à espera deste dia. Que vamos fazer estas férias? – Mafalda estava ansiosa por saber tudo o que Francisca tinha reservado para ela, mas Francisca explicou-lhe que ainda não tinha nada planeado.
A mãe de Francisca, estava à espera delas para as levar a casa. A viagem fez-se rápido. Kika morava em Leça da Palmeira e a sua casa era uma vivenda com jardim mesmo à frente da praia.
- Ainda é cedo para irmos para a praia. Que tal irmos arrumar as coisas? Arranjei um espacinho no meu armário para arrumares as tuas coisas.
- Kika, a sério? Não acredito que arrumaste o quarto só por minha causa. – Mafalda falou num tom de ironia porque sabia que a amiga não se importava de ter uma mala aberta no meio do chão durante um mês inteiro.
- Já sabes como é!
Arrumaram tudo durante a manhã e, depois de almoço, o namorado de Francisca apareceu. Disse-lhes que tinham de ir para a praia e levar mantas porque iam passar a noite na praia. Era a festa daquele dia, pensou Mafalda.
- Ai, vai ser tão perfeito! Mafs, vais conhecer um rapaz novo.
Mafalda riu-se. Não queria conhecer rapazes novos. Queria divertir-se, apenas, mas não queria mais ninguém para além de Bernardo.
Pegaram nas toalhas, algumas mantas, encheram as mochilas de bolachas, ainda prepararam rapidamente umas sandes para o jantar e foram para a praia. Quando lá chegaram, Mafalda paralisou. Bernardo e a sua namorada estavam lá e faziam parte do grupo com que ia passar o verão. Estavam os dois a jogar voleibol de praia contra Francisco e Camila, outros dos seus grandes amigos. Mal a viu, Francisco parou de jogar e correu para ela, abraçando-a.
- Mafs, que saudades! Anda jogar, a Camila já está cansada. – falou enquanto Camila se aproximava deles e abraçava a amiga.
- Iá, podes ir, é tranquilíssimo. – Camila sorriu e Mafalda percebeu que os rumores eram verdadeiros. Francisco gostava dela e isso era péssimo, porque Mafalda considerava-o um grande amigo. Ele não lhe era indiferente, mas também era uma das poucas pessoas com quem podia ser verdadeira e não queria estragar a relação que tinham. Tirou a camisola e os calções e foi com Francisco para o campo de voleibol.
- Tens de mostrar aí ao pessoal que estás bem. – Chico abraçou-a novamente, já dentro de campo e sussurrou. Ele sabia que ela ainda gostava de Bernardo e queria que ela seguisse em frente. Tentava ajudá-la sempre que podia e ela admirava imenso isso na personalidade dele. O único problema dele era gostar dela.
Começaram a jogar. A namorada de Bernardo, Matilde, jogava muito bem, para além de ser alta, ter um cabelo que fazia inveja a qualquer rapariga e ser bonita. Mas como Francisco dizia, era demasiado normal. O dia passou-se todo assim. Francisca estava quase sempre com o namorado, e Mafalda passava o tempo com Chico e Camila, e Bernardo estava sempre agarrado a Matilde.
- Podes parar de olhar para eles, se quiseres… - disse Francisco a uma certa altura, quando Bernardo pegou em Matilde e a atirou para o mar.
- Ele parece que está a fazer isto para me irritar.
- E está. – disse Francisca, libertando-se um pouco do namorado. – E também está a conseguir, não é verdade?
Passados alguns minutos, Francisco levantou-se, pegou na mão de Mafalda e levantou-a. – Vamos estrar no esquema deles. – disse, dando-lhe um beijo na cara.
- Chico, não precisas de fazer isto. Eu aguento bem!
- É Verão, aproveita, por favor. Sabes que gosto de ti, mas agora nem estou a pensar nisso. Vamos aproveitar isto e irritá-lo também. – dito isto, começaram a correr de mãos dadas para o mar. Mafalda parou quando uma onda lhe tocou no pé e começou aos saltos e a rir.
- Está muito fria, não vou entrar!
- Acho que não tens escolha. – Francisco voltou atrás, pegou nela e correu rapidamente para o mar, enquanto ela esperneava, gritava e ria nos braços dele. Depois disso, ficaram no mar, a nadar, a aproveitar o tempo. Bernardo olhava para os dois e notava-se que estava incomodado, pois estava sempre de olhos postos nos dois amigos.
O dia passou e chegou a noite. Mafalda e Francisco estavam os dois abraçados e cobertos com a mesma manta, tal como Bernardo e Matilde, e Francisca, Camila e Bruno, o namorado de Francisca, estavam a preparar as coisas para a noite. Enquanto Bruno acendia a fogueira, Camila e Francisca foram buscar bebidas e pacotes de batatas fritas e pipocas. Francisco tirou as colunas da mochila e começou a pôr música, principalmente reggae. 
Francisco começou a beber mal chegaram as cervejas e a vodka, e depois juntaram-se todos, menos Mafalda e Bernardo, que se tinham disponibilizado para tomar conta do grupo. A noite passou, foram todos dar o último mergulho da noite e por volta das 4 da manhã, toda a gente já estava a dormir, exceto Mafalda. Estava demasiado perturbada por toda aquela situação. Levantou-se. Simplesmente não conseguia estar deitada no mesmo sítio que ele. Parecia que estava demasiado perto dele e ao mesmo tempo sentia que continuava longe. Não tinham trocado uma única palavra e ele comportava-se como se continuassem chateados mas os olhares que trocavam diziam precisamente o contrário.  Levou a manta às costas e caminhou à beira-mar. Começou a sentir-se mais calma, ao ouvir as ondas e ao sentir a água fria a tocar-lhe nos pés. Por fim sentou-se a contemplar a escuridão do oceano, com a lua cheia bem no alto do céu a iluminar toda a praia. Começou a pensar no verão passado, nos momentos que tinha passado com Bernardo. Sabia que nunca ia amar ninguém como o tinha amado a ele. Nunca tinha percebido porque é que os grandes amores nunca eram os que faziam bem às pessoas até o ter conhecido. Porque quando amamos de verdade, fazemos tudo para que essa pessoa esteja bem, pensou Mafalda. Sentia-se fraca por não poder mostrar-lhe o que sentia por ele e o quanto o queria proteger e fazê-lo feliz.
Ouviu um barulho e, num instante, todos os seus pensamentos desapareceram e olhou para o lado, assustada.
- Posso? – Bernardo estava ao pé dela, levantado, a olhar para ela com uns olhos verdes penetrantes. Mafalda não conseguiu dizer nada, apenas acenou. Não conseguia perceber se era um sonho ou ser era mesmo realidade. Ele sentou-se ao pé dela, e cobriu-se com a manta dela, sem pedir, abraçando-a. – Estás gelada. – sussurrou.

Mafalda deixou cair a cabeça no ombro dele e começou a chorar. Queria parar mas sentia que estava descontrolada. Ele apertou-a com mais força e deu-lhe um beijo na testa. Pegou-lhe na mão e ficaram assim durante muito tempo, até Mafalda acabar por adormecer embalada pelas lágrimas. Bernardo pegou nela ao colo e levou-a para perto dos amigos, deixando-a no sítio onde ela estava, perto de Francisco. Depois disso, foi deitar-se perto de Matilde, acabando também por adormecer. 

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